O investidor veterano Nelson Tanure aposta que a Light vai gerar
ganhos elevados para seus acionistas, apesar de os investidores em
títulos de dívida vislumbrarem uma perda de cerca de metade de seus
recursos aportados.
Em qualquer outro país essa operação não faria muito sentido:
geralmente as ações de empresas que se reorganizam em processo de
recuperação judicial perdem valor e os credores assumem o
controle.
Mas peculiaridades na lei brasileira de recuperação judicial
significam que a posição na Light (BOV:LIGT3) pode ser lucrativa –
uma cartilha que ele já usou com sucesso antes.
Os acionistas têm o direito de efetivamente atrasar o processo
de recuperação de empresas brasileiras, dando-lhes um poder incomum
para pressionar outros investidores a suportar perdas.
Tanure, que em maio detinha menos de 10% da Light, vem comprando
ações em um ritmo frenético por meio da gestora WNT, elevando a
fatia total para pelo menos um terço da concessionária de energia
do estado do Rio de Janeiro.
Sua fatia vale R$ 895 milhões agora, já que sua onda de compras
ajudou a impulsionar um rali de 73% nas ações neste ano e ganhos de
cerca de 316% desde as mínimas do ano até sexta-feira (28).
Os investidores da dívida da companhia, por sua vez, veem muito
com o que se preocupar. A empresa propôs um plano de pagamentos
neste mês, dentro da recuperação judicial, para melhorar seu
balanço, o que pode resultar em uma perda de pelo menos 60 centavos
de dólar para os detentores de títulos.
As notas da empresa despencaram, com os títulos em dólar com
vencimento em 2026 sendo negociados a cerca de 45 centavos de
dólar, ante cerca de 84 centavos no final do ano passado. As ações,
por sua vez, recuaram 3,15% desde que o plano de pagamento foi
anunciado até a última sexta.
“A divergência é incomum”, disse Omotunde Lawal, chefe de dívida
corporativa de mercados emergentes da Barings.
“Normalmente, seria de se esperar que o equity fosse destruído
ou severamente diluído” em casos de recuperação, acrescentou
ela.
Tanure, 71 anos, construiu sua fortuna investindo em empresas
brasileiras problemáticas. Em 2016, ele comprou uma participação na
Oi (BOV:OIBR3), quando a operadora de telecomunicações entrava em
recuperação judicial.
Cerca de uma década atrás, ele comprou uma participação na hoje
PRIO (BOV:PRIO3), produtora de petróleo em dificuldades, e passou
anos ajudando a transformar a companhia.
Ele frequentemente procura ter um papel ativo na reparação de
empresas em dificuldades.
Com a Light, garantiu um assento no conselho, indicou um aliado
para presidi-lo e está engajado na conversa com credores.
A Light entrou com pedido de recuperação judicial em maio,
depois de apontar que o órgão regulador, a Aneel, não a autorizava
a cobrar dos clientes o suficiente para pagar suas obrigações.
A companhia sofre com uma série de problemas, incluindo o fato
de que mais de um quarto da energia que envia para a rede é perdida
por furto, o que custa à companhia cerca de US$ 200 milhões por
ano.
A concessionária de cerca de 120 anos também disse que sofre com
altas taxas de juros, inadimplência, receita menor de grandes
clientes e provisões para pagar uma decisão judicial que a obrigou
a devolver créditos fiscais aos consumidores.
Risco de crédito
Há boas razões para os investidores em títulos se preocuparem
com o risco da dívida da Light, de acordo com Eduardo Ordonez,
gestor de portfólio de dívida em Copenhague na BI Asset
Management.
“O risco de processo/execução é elevado e o caminho para um
acordo pode não ser uma linha reta”, disse Ordonez, que ajuda a
administrar US$ 2 bilhões em títulos corporativos de mercados
emergentes.
“O nome tem sido politicamente sensível por um tempo devido a
negociações de concessão e mecanismos de fixação de tarifas.”
O novo conselho de administração da Light, que inclui Tanure,
contratou o banco de investimentos BR Partners (BOV:BRBI11) para
assessorar nas conversas com os credores, e as negociações com
detentores de títulos locais devem continuar nas próximas semanas,
segundo pessoas a par do assunto.
Outros grandes acionistas da Light incluem o investidor Ronaldo
Cezar Coelho e o bilionário co-fundador da 3G Capital Partners
Carlos Alberto Sicupira. Este é também um dos principais acionistas
da Americanas (BOV:AMER3), que igualmente pediu recuperação
judicial neste ano.
Ainda assim, a aprovação de um plano de recuperação pode não
afastar necessariamente “preocupações materiais” sobre o crédito,
segundo Filipe Botelho, analista de crédito da Lucror Analytics,
acrescentando que a renovação da concessão antes do prazo previsto
e em melhores condições não é algo já definido.
“Atualmente, vemos espaço limitado para ganhos nas notas em
dólar, com riscos não apenas da exposição a termos de
reestruturação adversos mas também de fundamentos obscuros”, disse
Botelho.
“Embora pouco atraente para os detentores de títulos, a proposta
é uma primeira tentativa e as negociações podem evoluir
positivamente.”
Informações Bloomberg
BR PARTNERS UNT N2 (BOV:BRBI11)
Historical Stock Chart
From Nov 2024 to Dec 2024
BR PARTNERS UNT N2 (BOV:BRBI11)
Historical Stock Chart
From Dec 2023 to Dec 2024