Analistas de mercado têm revisado suas perspectivas para as
aéreas brasileiras, de forma a avaliar os novos programas e também
as renegociações de dívidas. O cenário, de acordo com os analistas
do Itaú BBA e Bradesco BBI, está mais otimista, mas as duas casas
apontam preferência por uma ação.
Em relatório, o Bradesco BBI avaliou os possíveis efeitos do
programa “Voa Brasil”, do governo federal, que visa oferecer
passagens aéreas de R$ 200 para consumidores brasileiros
específicos e preencher a lacuna de ocupação de aproximadamente
21%, tem o potencial de adicionar até R$ 3,3 bilhões em valor
patrimonial para Azul (BOV:AZUL4), Gol (BOV:GOLL4) e Latam
Airlines.
Os analistas mantiveram suas recomendações para a Azul em
compra, e neutra para a GOL, enquanto aumentaram seus preços-alvo
para ambas em 4% e 10%, respectivamente. Assim, AZUL4 passa a ter
preço-alvo de R$ 28,00 (potencial alta de 99% frente o fechamento
de sexta), enquanto que GOLL4 passa a ter preço-alvo de R$ 11,00
(potencial de alta de 41,5% frente o fechamento de sexta).
O banco destaca o potencial do mercado doméstico. Enquanto o
mercado de viagens aéreas brasileiro movimentou 89 milhões de
passageiros em 2022, o número de passageiros únicos é limitado a 10
milhões. No Brasil, são 0,4 voos/pessoa, bem abaixo da média de 2,3
nos EUA e de 0,7 no Chile.
Segundo relatório, as três companhias aéreas combinadas têm
cerca de 350 rotas domésticas abaixo do ponto de equilíbrio. Ao
adicionar 2 milhões de passageiros a R$ 200 por passagem em
assentos lucrativos, poderia gerar R$ 1,10 por ação da Azul, R$
0,20 para Gol e 0,20 pesos chilenos para Latam.
O banco aponta que a Azul tem 183 rotas abaixo do ponto de
equilíbrio, 139 das quais seriam lucrativas a R$ 200 por
passagem.
“Estimamos que essas rotas criam a oportunidade de preencher 711
mil assentos vazios por ano, o que renderia R$ 62 milhões em Ebitda
[lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] anual
adicional, 1,2% da nossa estimativa para 2023. A Gol tem menos
rotas abaixo do ponto de equilíbrio, e poderia adicionar 137 mil
passageiros e R$ 13 milhões em Ebitda anual (1,0% da nossa
estimativa para 2023)”, avaliam.
Com base em uma taxa de ocupação de 80%, 6 milhões de passagens
aéreas poderiam ser vendidas por ano, adicionando R$ 2,90 para
Azul, R$ 1,30 para e CLP 0,40 para Latam aos seus respectivos
preços-alvo.
Isso uma vez que a Azul poderia adicionar 1,9 milhão de
passageiros anuais a 214 rotas, adicionando R$ 167 milhões em
Ebitda (3,2% do Ebitda de 2023). A Gol poderia adicionar 1,2 milhão
de passageiros a 100 rotas, resultando em um adicional de R$ 88
milhões no Ebitda (6,7%).
O BBI mantém preferência para Azul, com recomendação outperform
(desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra). A
avaliação se baseia em em: 1) maior liquidez de caixa em relação
aos pares locais, 2) sua malha aérea diferenciada e 3) a empresa
deve começar a operar novos slots no aeroporto premium de
Congonhas, em São Paulo.
O Itaú BBA também atualizou os seus modelos para a Azul e para a
Gol, com recomendação outperform (desempenho acima da média do
mercado, equivalente à compra) para a primeira e preço-alvo de R$
28 e marketperform (desempenho em linha com a média do mercado,
equivalente à neutra) para a segunda, com preço-alvo de R$ 9 para
GOLL4 (upside de 16%).
A recomendação outperform para a Azul é baseada em: i) melhor
visibilidade sobre o seu plano de reestruturação; ii) o baixo custo
marginal da dívida, em 7,5% em dólares, versus 18% da Gol; e iii)
múltiplos ainda atraentes de 5 vezes o valor da firma (EV) sobre o
Ebitda para 2024, apesar da alta de 100% das ações desde o anúncio
da reestruturação.
O banco destaca que ambas as empresas anunciaram recentemente
planos de reestruturação de passivos, que devem reduzir
consideravelmente o risco de seus problemas de liquidez. A
reestruturação significou uma extensão da duration do passivo das
empresas e a conversão de parte dos direitos dos devedores em
participação acionária, resultando em alguma diluição para os
atuais acionistas.
Os riscos do balanço estão agora consideravelmente mitigados,
avaliam os analistas. A pandemia teve um impacto significativo nas
companhias aéreas brasileiras, resultando em uma queima de caixa
sem precedentes de R$ 17 bilhões para a Azul e de R$ 16 bilhões
para a GOL em 2020-22, afastando investidores.
No entanto, com os acordos anunciados pela Azul em fevereiro e
pela Gol em março, as companhias conseguiram diminuir a percepção
de risco entre os investidores, com as ações começando a recuperar
a atenção do mercado, avaliam.
Os analistas do BBA também diferenciam as abordagens das duas
empresas sobre as negociações de dívidas.
As negociações da Azul resultaram em uma redução de saída de
caixa programada de R$ 5,4 bilhões nos próximos anos, de um total
de R$ 26 bilhões. Assim, sua projeção, que era de queima de caixa
de R$ 3 bilhões em 2023, agora está mais perto do breakeven (ponto
de equilíbrio), com geração de caixa positiva já em 2024. Além
disso, cerca de R$ 2,3 bilhões dos R$ 5,4 bilhões devidos aos
arrendadores serão convertidos em título de vencimento em 2030
(taxa de juros de 7,5%), enquanto os R$ 3,2 bilhões restantes serão
convertidos em patrimônio líquido no 3T24-4T27, implicando uma
diluição de 17,5% para os acionistas.
Já a Gol concordou que a ABRA (atual controladora da Gol e da
Avianca) faria um reperfilamento da dívida da empresa, substituindo
parte dos títulos de 2024, 2025 e 2026 por um novo título
conversível com vencimento em 2028 no valor de US$ 1,1 bilhão (que
pode aumentar para US$ 1,4 bilhão) a uma taxa de juros de 18% (4,5%
à vista e 13,5% capitalizados). “Estimamos uma potencial de
diluição de capital de aproximadamente 20%”, avalia.
O BBA destaca que Azul e Gol estão voando 31% a mais e 11% menos
do que antes da pandemia, respectivamente. A maior parte da
recuperação vem de: i) viagens de negócios, que representam
atualmente cerca de 50% do total de passageiros (ante 60% no
pré-pandemia); e ii) tráfego internacional, onde a Gol está
atualmente em aproximadamente 70% dos níveis pré-pandêmicos.
Os rendimentos, por outro lado, melhoraram substancialmente (50%
maior no 1T23 do que no 1T19) e a tendência geral parece saudável.
A margem Ebitda tem algum espaço para retornar ao patamar histórico
de cerca de 30% (aumento de 2 pontos percentuais para a Azul e 4
pontos para a Gol), avaliam.
“Nossas estimativas são de margem Ebitda de 30% para a Azul e
26% para a GOL em 2024”, apontam os analistas. Eles destacam que
ambas as ações estão sendo negociadas com desconto em relação aos
níveis de valuation pré-pandemia, mas o desconto é maior para a
Azul (-40%) do que para a Gol (-28%), levando assim a uma
preferência por AZUL4 (além da razão de ter a recomendação pelo
acordo com credores).
“Dito isto, reconhecemos que, dada a ainda bastante elevada
volatilidade no mercado de ações brasileiro, o múltiplo da Azul
deve subir, mas permanecer abaixo da média histórica por um tempo”,
apontam.
Enquanto Bradesco BBI e Itaú BBA possuem recomendação de compra
para Azul e neutra para Gol, os analistas da XP, logo após a
divulgação de resultados, reforçaram visão neutra para as ações das
duas aéreas, ainda que mostrando preferência por Azul no setor
aéreo brasileiro. Entre os motivos para isso, veem o setor aéreo
altamente dependente do cenário econômico doméstico, “e nossa atual
perspectiva macro nos impede de ter uma visão mais otimista no
curto prazo”.
De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de 12 casas que
cobrem as ações AZUL4, seis possuem recomendação de compra e seis
de manutenção, com preço-alvo médio de R$ 22,80 (upside de 62%). Já
para GOLL4, de 12 casas, quatro recomendam compra, 5 manutenção e
três, venda.
Informações Infomoney
GOL PN (BOV:GOLL4)
Historical Stock Chart
From Jun 2024 to Jul 2024
GOL PN (BOV:GOLL4)
Historical Stock Chart
From Jul 2023 to Jul 2024