O Comitê de Política Monetária do
FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) decidiu
aumentar a meta para a Fed Funds (taxa básica de juros) em 0,25
p.p. nesta quarta-feira, para a faixa de 1,0% a 1,25% ao ano,
marcando o segundo aumento em três meses. Uma nova elevação de 0,25
p.p. deverá ocorrer até o fim deste ano.
A decisão sobre a Fed Funds era
amplamente esperada no mercado e não surpreendeu
investidores/operadores. Entretanto, o comunicado divulgado após a
reunião de Comitê apresentou uma sensação de que o inverno está
chegando.
Os membros do Comitê dispensaram
fazer rodeio em torno da temida fase da desalavancagem financeira,
mostrando uma estratégia relativamente diferente da que foi adotada
pelo tapering (processo de redução do volume de compras de títulos
públicos e ativos hipotecários), onde, na época, a autoridade
monetária se viu forçada a queimar longos meses em comunicação e
preparo psicológico com o mercado antes de executar seu
programa.
Desta vez, o programa inverso
(retirada de liquidez do mercado), que mal começou a ser discutido
nos meses anteriores, já apareceu no comunicado desta quarta-feira
com um cronograma todo definido, sinal de que o FED não está tão
cauteloso quanto no passado recente. O passo para as mudanças
relevantes está acelerado e o viés cada vez mais hawkish.
A autoridade monetária trabalha com
um portfólio de insustentáveis 4,2 trilhões de dólares em Treasurys
(títulos do tesouro norte-americano) e títulos lastreados em
hipotecas. Essa gigantesca montanha de ativos será reduzida
significativamente, mas não alcançará a cifra de pouco menos de 1
trilhão de dólares observada antes da crise do subprime.
O FED não detalhou qual será a meta
para o nível de seu portfólio, mas estima-se que será algo em torno
de 1,5 trilhão de dólares, cerca de 50% acima do nível considerado
normal da década passada, dentro de um cenário otimista de
liquidez. Ou seja, ao final do processo, serão retirados
possivelmente quase 3 trilhões de dólares do sistema
financeiro.
A estratégia de normalização do
balanço do FED será instaurada ainda neste ano, de forma gradual
(mas não tão cautelosa) e crescente. Começará com a suspensão dos
reinvestimentos de juros dos títulos, partindo, posteriormente,
para a não rolagem dos títulos vendidos. Inicialmente, 6
bilhões de dólares em Treasurys serão retirados do portfólio. A
cada três meses, a retirada aumentará em 6 bilhões de dólares ao
longo de um período de 12 meses até atingir o objetivo de 30
bilhões de dólares por mês. Já a remoção dos títulos lastreados em
hipotecas começará com 4 bilhões de dólares por mês, aumentando 4
bilhões de dólares ao longo de um período de 12 meses até atingir o
objetivo de 20 bilhões de dólares por mês.
Isso significa que, se a economia
norte-americana manter seu ritmo de crescimento moderado, com
inflação ancorada na meta e mercado de trabalho aquecido ou
relativamente aquecido, ao final de 2018 o mercado estará
experimentando o gosto amargo de uma desalavancagem mensal de 50
bilhões de dólares por mês.
O volume de extração é considerado
expressivo. A cada mês, serão 50 bilhões de dólares a menos no
sistema. É uma situação totalmente diferente daquela que sustentou
e impulsionou os preços dos ativos nos últimos 8/9 anos. Choques
poderão ocorrer e as estratégias operacionais precisarão ser
adaptadas para a nova dinâmica do mercado.
As projeções do FED mostram sinal
verde para execução da estratégia de desalavancagem do sistema. O
PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos foi revisado de 2,1%
para 2,2% em 2017. Para os dois anos seguintes, a expectativa ficou
inalterada em 2,1% e 1,9%, respectivamente.
A mediana das projeções para a taxa
de desemprego foi alterada de 4,5% para 4,3% em 2017, mantendo-se
em 4,2% em 2018 e 2019. A expectativa para inflação sofreu redução
de 1,9% para 1,6% em 2017, mantendo-se comportada no centro da meta
de 2,0% em 2018 e 2019. O núcleo de inflação foi revisto de 1,9%
para 1,7% em 2017, mas também manteve-se em 2,0% ao longo de 2018 e
2019.
A expectativa para a Fed Funds ficou
inalterada em 1,4% e 2,1% para o fim de 2017 e 2018,
respectivamente. A estimativa para 2019 foi reduzida de 3,0% para
2,9%, embora a projeção de longo prazo (pós 2019) permaneceu firme
nos 3,0% ao ano.
O comportamento do mercado segue
anormal, o que não deixa de ser uma novidade. Os investidores estão
subestimando os impactos, contaminados pelo clima ainda bullish nas
principais praças financeiras mundiais.
O rendimento da Treasury de 10 anos
renovou nova mínima em 2017, mostrando intenso movimento comprador.
Considerando a expectativa de longo prazo de 3% na Fed Funds, o
mercado opera com uma larga defasagem de 0,85 p.p. Ou seja, o
título está com cerca de 40% de sobrepreço estimado para um cenário
futuro de tranquilidade no ambiente de negócios. Considerando
eventuais choques de mercado em função da desalavancagem do
portfólio do FED, o atual rendimento da Treasury é uma tremenda
armadilha para holders.
Se o rendimento de 2,15% ao ano na
Treasury de 10 anos já mostra excesso de sobrepreço, que dirá os
míseros 1,48% ao ano pagos pela Treasury de 3 anos. É uma bomba
prestes a explodir, mas ainda assim os investidores seguem
desafiando os riscos, surfando o fim da onda bullish nos bonds.
Nada, também, assusta os
investidores no mercado de ações. O índice S&P500, em nova
máxima histórica, segue dando as costas para o FED. O mercado ainda
não teme a desalavancagem, mas esse quadro não se sustentará ao
longo dos próximos anos.
No Brasil, a bolsa (BOV:IBOV) segue
apática, mas vendida. O show de horror do noticiário local matem o
tom de desânimo dentro e fora do mercado. Detalhe técnico relevante
no Ibovespa ocorreu com a perda da média móvel simples de 200
períodos diária, ocasionando no acionamento de um pivot de baixa de
curtíssimo prazo, já se aproximando do alvo em 60,3k, principal
região de suporte de curto prazo.
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