Na corrida para descontar o atraso
dos últimos anos, o Índice Bovespa segue trabalhando dentro de uma
forte tendência principal de alta, iniciada aos 37,5k em janeiro de
2016. Nesta histórica segunda-feira, o antigo topo histórico,
formado em 2008, foi enfim superado.
O rompimento da máxima histórica no
Brasil em nada surpreende dentro de um contexto mais amplo, a nível
global. Na verdade, nós estávamos (e ainda estamos) atrasados. O
mercado brasileiro estava em dívida de upside, tanto na comparação
com as praças desenvolvidas, quanto na comparação com as praças
emergentes.
A recente melhora do cenário
doméstico foi cantada aos quatro cantos do país como grande válvula
de impulso para nossa superação da máxima histórica. O diagnóstico
presente na mídia não parece o mais correto, até porque os
fundamentos permanecem deteriorados. Esse descompasso, por sinal, é
característica muito comum detectada em nascimentos de ciclos de
bull market.
O mais recente driver responsável
por empurrar preços de ativos para cima vem, mais uma vez, de um
importante banqueiro central. Seguindo o tom de cautela adotado
pelo FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) nos
últimos meses, o BCE (Banco Central Europeu) surpreendeu em sua
última reunião de política monetária ao não detalhar um plano para
a necessária redução de compras de ativos mensais.
Apesar de estar se preparando para
reduzir seu programa de estímulos monetários, o BCE está mais
preocupado, no momento, em acalmar os investidores, assim como tem
feito o FED desde a era Bernanke. Ardo Hansson, membro do Conselho
do BCE, reafirmou nesta segunda-feira que a estratégia da
autoridade monetária é conscientizar o mercado de que o processo de
normalização será muito gradual.
Uma decisão será tomada somente no
próximo encontro de outubro, mas ela não será nada traumática.
Muito pelo contrário, o processo de redução do volume mensal de
compras será tão pequeno e demorado a ponto de não causar efeito
prático no mercado.
Na verdade, poucos no mercado
entendem que o processo já se iniciou. Em dezembro de 2016 o BCE
decidiu agendar um corte 20 bilhões no seu volume de compras
mensais a partir do mês de abril de 2017. Até então BCE continuou
comprando 80 bilhões de euros no mercado. A partir do mês e abril,
o BCE passou a comprar 60 bilhões de euros. O GAP de 3 meses criado
entre a data de anúncio de corte e a data da efetivação foi
suficiente para fazer os investidores se esquecerem ou deixarem de
se preocupar com a redução no volume de compras mensal.
20 bilhões de euros a mais ou a
menos não altera em absolutamente nada o atual quadro de excesso de
liquidez no sistema. O BCE poderia até mesmo interromper
integralmente a partir do próximo dia útil seu programa de compras
mensais, atualmente em 60 bilhões de euros, que ainda assim não
iria causar impacto do ponto de vista da liquidez no sistema.
Considerando apenas o atual programa
de estímulo do BCE, foram mais de 2 trilhões de euros injetados no
sistema através de compras de ativos. Reflexo do transbordamento de
liquidez pode ser notado pela a emissão de eurobônus pelo
Tajiquistão ou mesmo na nivelação dos prêmios dos títulos de alto
risco denominados em euros com as super seguras Treasurys
norte-americanas (isso nunca aconteceu antes).
Analistas do Bank of America Merrill
Lynch calculam que os bancos centrais inundaram os mercados com
mais de 14 trilhões de dólares em diversos programas de estímulos
implementados em vários países desde o estouro da crise do
subprime. É como se uma China fosse transformada em dinheiro e
injetada no mercado.
A tática do BCE parece ser
justamente a de reforçar o status de excesso de liquidez no sistema
financeiro. Assim, aos poucos, conseguem convencer os investidores
de que mesmo com uma redução gradual no volume de compras mensais,
a política monetária permanecerá muito expansionista. Até porque, o
capital que já foi injetado não será retirado do sistema tão
cedo.
O tom mais dovish do BCE realinhou
sua postura com o excesso de cautela do FED, juntamente com o BoE
(Bank of England) e BoJ (Bank of Japan). Os mercados no mundo
inteiro responderam com intensificação de ralis. As praças
europeias, que até então operavam vendidas, descoladas do mundo,
voltaram a trabalhar na ponta comprada.
O quadro é de euforia generalizada.
S&P500 voltou para máxima histórica em uma forte arrancada,
Nikkei mal realizou e já se sustentou no primeiro ponto de suporte
(média móvel simples de 200 períodos diária), Bombay (Índia) voltou
para máxima do mês, trabalhando reaproximação com a máxima
histórica, os russos estão subindo sem parar, atropelando níveis de
sobrecompra e o mercado turco opera praticamente na vertical, um
foguete sobrecomprado desde o mês de abril.
São vários os casos de ralis
impressionantes mundo afora. São vários os casos de sobrepreço em
descompasso com os fundamentos domésticos. São vários os casos de
bolhas em formação. Não é pra menos, boa parte dos 14 trilhões de
dólares injetados pelos bancos centrais estão “passeando” no
mercado de capitais.
A superação da máxima histórica no
Índice Bovespa (BOV:IBOV) parece, portanto, apenas um reflexo
tardio dos impactos dos programas de relaxamento quantitativo.
Estamos acumulando um excelente desempenho desde janeiro de 2016,
mas ainda pode ser pouco comparado ao nível de euforia global.
![Ibovespa](https://br.advfn.com/jornal/files/2017/09/Ibovespa.png)
Superamos a primeira barreira na LTB
do canal de baixa (círculo 1) e, agora, atropelamos a última
resistência técnica do índice (círculo 2), ratificando, mais uma
vez, o status de mercado bullish.
Índice Bovespa
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From Jun 2024 to Jul 2024
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From Jul 2023 to Jul 2024