A Vale (BOV:VALE3) realizou dia 16 de setembro
a sua conferência Investor Tour de 2020 quando os representantes da
empresa afirmaram que a VALE está com tudo para
que seu plano de produção seja bem sucedido através da criação de
buffers de capacidade. Além disso, a Vale também está comprometida
em expandir o portfólio de produtos premium, de 85% a 90%. Somando
tudo isso com o principal vetor de crescimento da companhia – o
Sistema Norte cuja capacidade é de processar 202 milhões de
toneladas por dia – , a Vale está perto de alcançar a sua meta de
230 milhões de toneladas diárias prevista para 2022.
O que isso tudo traz de informação para o setor de mineração?
Bem, enquanto alguns setores paralisaram as
atividades durante a pandemia, a mineração seguiu forte em suas
operações – principalmente nos insumos minerais
base para a cadeia produtiva de atividades essenciais.
Mas não podemos negar que o avanço da doença no país impôs
certas restrições às empresas de mineração. Estamos falando de
redução dos efetivos que causa queda na produção. Tanto que o
Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) disse que no 1T20, este
setor foi afetado pelos preços, alteração em
níveis de produção e também investimentos.
Mas o que veremos a partir de agora?
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, a pandemia
bateu de foandrerma heterogênea para todo mundo. Alguns países
conseguiram se sair melhor que outros por um conjunto de fatores.
Um deles é a força bruta. Tem países que podem fazer fazer gastos
fiscais mais mais fortes e os EUA é um bom exemplo, assim como a
China, que gastaram literalmente trilhões de dólares na pandemia.
Tem outros países que conseguiram fazer algo não tão caro, que foi
coordenar a sociedade. De pouco adianta baixar a taxa de juros se
você é um empresa que olha apenas para a taxa mais baixa, pois isso
é apenas uma parte da sua conta.
São perguntas como: Vai ter demanda? Quanto
tempo vai demorar esta crise?
“Por isso que o Brasil está meio estranho na pandemia, pois
apesar do juro estar baixo, não há uma coordenação com os Governos
federal, estaduais e municipais, tornando o cálculo empresarial um
pouco difícil” explica Perfeito.
O especialista lembra que nos países que conseguiram fazer essa
coordenação correta, como Coréia do Sul e Nova Zelândia, houve
atenção com incentivos ao mesmo tempo em que apertou fortemente sua
sociedade para depois deixar a economia girar:
“Falando sobre o minério de ferro, a China é
o fiel da balança por conseguir sustentar o preço do minério
durante um tempo e isso tem sido bom para empresas como a VALE.
Parece que o cenário vai seguir sendo bom. Ninguém está dizendo que
a economia chinesa vai colapsar. Além disso, é possível imaginar
uma situação de continuidade em algumas commodities, como no
próprio minério de ferro, por conta da reação que foi melhor do que
a esperada tanto na China quanto nos Estados
Unidos. Tudo isso favorece o preço da commoditie”.
Mineração no Brasil
A Agência Nacional de Mineração (ANM)
publicou um edital que reabre a disponibilidade de áreas que
estavam paralisadas há quatro anos. Estão sendo ofertadas 502 áreas
para fins de pesquisa de minerais usados em infraestrutura e
construção civil. Hoje, estima-se que existam mais de 57 mil áreas
na carteira da ANM, totalizando cerca de 500 milhões de km², com
represamento de investimentos em pesquisa e lavra mineral.
Para André Perfeito, estas ações governamentais vieram em boa
hora: “Penso que faz sentido dentro da estratégia do governo de
destravar valor no Brasil. Já que não dá para investir, a ideia é
tentar abrir a concessões para ver se gera
investimentos. Essa atitude é correta neste momento. Agora, o nível
do produto global melhorou, mas talvez falte novas boas notícias
para continuar crescendo em velocidade. Quando
se investe no bum, ou quando o setor já está
subindo, é bem provável que quando comece a
explorar lá na frente, o preço já não fique assim tão
interessante”.
Perfeito lembrou, conteúdo, do recente caso
da greve dos caminheiros na época do governo Dilma, que baixou o
preço para compra de veículos pois a época estava boa para o frete.
Todo mundo comprou, peço caiu do frete: “Essa
estratégia não é consonante com a estratégia do atual Governo de
destravar valor no Brasil” .
Acidentes e questão social
André lembra que não foi só a mineração melhorando. De forma
geral, há melhorias nas governanças de várias empresas com o ESG
Evaluation Social and Governments, indicador que buscam mapear
questões ambientais,sociais e de governança;
“ Estamos falando de um compliance ampliado, até mesmo nas
questões raciais. Vimos uma Magazine Luíza fazendo traine somente
para negros. Isso melhora a imagem e melhora os indicadores sociais
da empresa, que é o que se olha atualmente”.
Esta ESG Evaluation Social and Governments já se faz
presente nas mineradoras também, que sabem que a sociedade não
aceita mais acidentes, como em Brumadinho e em Mariana: “É
inaceitável. Nitidamente faltou alguma coisa e as empresa s estão
cientes disso. Depois de sofrer muito com estas
questões, temos chance de melhorar”.
Como os recentes abalos mexeram na mineração?
Com uma participação no Produto Interno Bruto (PIB) em torno de
4% nos dados do IBGE – Instituto Brasileira de
Geografia e Estatística – puxados por segmentos de extração mineral
e transformação mineral, além de petróleo & gás – os abalos
neste setor mexem de forma profunda com a economia nacional.
A pesquisa, que contemplou 75% de toda produção mineral
brasileira, mostrou que no 1T20 a indústria brasileira de mineração
caiu quase 17% na produção em toneladas de minérios versus o 1T19,
com faturamento de R$ 36 bilhões excluindo petróleo e
gás. Mesmo assim, produtos
como minério de ferro e ouro se destacaram, com participações de
63% e 11% nos resultados, respectivamente.
Países como Estados Unidos, Canadá e Austrália são exemplos de
nações que tiveram suas economias impulsionadas pela mineração e
isso não é segredo para ninguém. Também pudera – a mineração é,
dentro da indústria de base, um segmento essencial na cadeia
produtiva desde a sua base, incluindo o processo de transformação
de minérios e também produtos industrializados. E na pandemia, os
minérios estão mais presentes do que nunca nas mais diversas áreas,
como saúde, agricultura, segurança e
transportes.
Tanto que para Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, este é um
bom momento para ficar de olho no setor justamente pela retomada da
economia mundial, que deverá se mostrar forte a partir de 2021 –
quando o economista, aliás, espera que já exista vacina contra o
COVID-19 e aconteça a imunização em massa contra a doença:
“Pensando em mercado e mais especificamente no caso do Brasil, o
grande destaque neste período fica com o minério de ferro, cujo
preço já supera a casa de US$ 120/ton. Aparentemente não deve
sofrer queda abrupta por conta da necessidade da China em adquirir
material de alta qualidade e a Vale é a mais influenciada neste
cenário.”
Spyer entende que os minérios estão (e seguirão) em alta pela
atual revolução tecnológica e científica, que não seria a mesma se
não existisse o setor mineral. Como houve esta explosão de startups
e de novas tecnologias, a mineração vai acompanhar o crescimento
justamente pela demanda de material base para computadores e
smartphones.
Brasil está acordando gradualmente
Ainda falando sobre a movimentação por parte do Governo Federal,
com o recente edital da Agência Nacional de Mineração (ANM) que
citamos anteriormente, o diretor da Mirae Asset entende que essas
ações governamentais chegam em um bom momento, pois o Brasil é rico
em reservas minerais e o precisa elevar divisas para reestruturar
as contas públicas. Detalhes como este podem servir para
impulsionar ainda mais o novo olhar pelo setor e trazer bons
resultados.
E nada mais urgente do que dar uma atenção maior para a
mineração brasileira, que passou por diversos desafios de imagem,
por parte do público, imprensa e de investidores. Claro que não
podemos ignorar o recente desastre do rompimento de barragem em
Brumadinho, dia 25 de janeiro de 2019, considerado o maior acidente
de trabalho no Brasil quando se fala em perda de vidas humanas e é
um dos maiores desastres industriais da nossa história
recente. Lembre-se que estamos na era digital,
em que as redes sociais disseminam tudo com uma velocidade
assombrosa.
Apesar da proporção tomada pelo desastre, como explicar esta
retomada agora mesmo com estes graves acidentes? Muitos perguntarão
se a imagem não ficou prejudicada, mas Spyer explica setores
relacionados a petróleo e mineração apresentam risco de desastres
ambientais e que de tempos em tempos, infelizmente, acabam
acontecendo vazamento de óleo e problemas com barragens:
“Isto não é um problema só no Brasil, ele acontece no mundo
todo. Basta ver o caso da plataforma que explodiu e afundou no
golfo do México, gerando o maior acidente ambiental do mundo. Aqui
a lembrança vêm das duas barragens da Vale que entraram em colapso.
A busca por maior segurança seguirá, principalmente com a melhora
da legislação destes setores”.
Por Aroldo Antonio Glomb Junior – Especial ADVFN
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