O acordo que pode ser um catalisador para as ações da gigante de
mineração brasileira está cada vez mais próximo.
Na última sexta-feira, a Vale divulgou um fato relevante com números
atualizados para os termos gerais em discussão para a reparação
pelo rompimento de barragem de mineração em Mariana (MG) após
notícias de que um acordo poderia ser assinado no próximo dia 25. A
mineradora ressaltou que nenhum acordo foi assinado ainda, enquanto
o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, apontou que tem
muita expectativa de que o acordo possa ser concluído neste
mês.
O valor financeiro do acordo potencial, considerando obrigações
passadas e futuras, totaliza R$ 170 bilhões.
O Bradesco BBI lembra que, nos últimos meses, tanto a Vale
quanto o governo brasileiro apresentaram propostas (e
contrapropostas) para resolver a questão. Em dezembro de 2023, a
Vale/BHP ofereceu R$ 42 bilhões (em dinheiro novo; acordo total: R$
100 bilhões) para resolver o acordo, que foi rejeitado pelo
governo. Depois disso, ambas as partes se envolveram em uma série
de propostas, embora não tenham chegado a um consenso.
Além disso, no 4T23, a Vale aumentou suas provisões relacionadas
a Mariana em US$ 1,2 bilhão para US$ 4,2 bilhões. A última
contraproposta da Vale aconteceu em junho de 2024, quando a
empresa, juntamente com a BHP, apresentou um acordo de R$ 140
bilhões, incluindo R$ 37 bilhões em valores já investidos, um
pagamento em dinheiro de R$ 82 bilhões a ser pago em 20 anos e R$
21 bilhões adicionais em obrigações a serem cumpridas. No 2T24, a
Vale tinha US$ 3,7 bilhões em provisões relacionadas a Mariana
(+US$ 7,9 bilhões ou R$ 38 bilhões desembolsados nos últimos
anos).
Capítulo final
O banco espera uma reação ligeiramente positiva do mercado para
as ações da Vale (BOV:VALE3), uma vez que o tão esperado acordo
definitivo parece estar chegando a um capítulo final —o que remove
uma pendência significativa em relação às ações da Vale.
Embora o cronograma de desembolsos permaneça incerto (na visão
do banco, os R$ 32 bilhões em indenização poderiam ter uma duração
menor de 2 a 3 anos), o BBI nota que a provisão adicional anunciada
pela Vale de aproximadamente US$ 1,0 bilhão está dentro da
expectativa do mercado de US$ 1,0 bilhão a US$ 2,0 bilhões (como o
próprio BBI tem apontado em relatórios recentes – assumindo US$ 1,5
bilhão em seu modelo).
O Itaú BBA avalia que este acordo, se fechado, é uma vitória
para o governo e a sociedade, assim como para a Vale. “Se um acordo
for de fato alcançado, será um dos maiores da história do Brasil”,
aponta.
Para a Vale, as provisões adicionais necessárias (a serem feitas
nos resultados do 3T24) definidas em US$ 956 milhões seriam menores
do que a estimativa do banco (e de consenso) de US$ 2,5 bilhões.
“Também saudamos o potencial fim de um dos overhangs [fatores de
pressão para as ações] mais significativos nas ações dos últimos
anos. Isso permitirá que a nova gestão se concentre totalmente nas
estratégias operacionais de curto e longo prazo da empresa”,
avalia.
O BBA, por sua vez, tem algumas questões. Embora o prazo para os
R$ 100 bilhões em pagamentos em dinheiro seja de 20 anos, o banco
acredita que as saídas podem ser um pouco mais concentradas nos
primeiros 2-3 anos do acordo, provavelmente prejudicando a geração
de FCF (fluxo de caixa livre) da Vale e limitando o pagamento de
dividendos extraordinários no curtíssimo prazo.
O Morgan Stanley também aponta que a estimativa da Vale de US$ 1
bilhão em passivos adicionais (2,1% de seu valor de mercado), que
assume contribuição da Samarco, se compara favoravelmente às
provisões incrementais de US$ 1,9 bilhão (4,1%) que o banco incluiu
em seu modelo.
Assumindo nenhuma contribuição da Samarco, o acordo potencial
adicionaria US$ 4,4 bilhões (9,7%) em passivos para a Vale, acima
de sua estimativa e expectativas de mercado, que estima em cerca de
US$ 3 bilhões. O banco lembra que a Vale apoiará a Samarco — a
principal devedora — na reparação dos danos causados pelo
rompimento da barragem de Fundão sob a obrigação previamente
acordada pelos acionistas de financiar até 50% dos valores que a
Samarco eventualmente não financiar.
“Acreditamos firmemente que um acordo final é do melhor
interesse de todas as partes interessadas — aquelas impactadas pelo
trágico acidente; governos federal, estadual e municipal; e as
empresas — e, portanto, esperamos que as partes se esforcem para
chegar a um acordo nos próximos dias/semanas”, avalia o banco
americano.
Além disso, um acordo final e razoável, ao mesmo tempo em que
limita o potencial de alta em dividendos especiais (já que a dívida
líquida expandida da Vale chegaria perto do limite superior de sua
meta de US$ 10-20 bilhões), provavelmente será um catalisador
positivo para as ações que contribui para uma reclassificação de
múltiplos ao remover uma fonte de incerteza.
O JPMorgan ressalta que a sociedade brasileira e outras partes
afetadas ganham uma compensação material, o que poderia ser um
passo importante para restabelecer um relacionamento saudável entre
a Vale e as partes interessadas. “A questão não resolvida de
Mariana foi um grande obstáculo para potenciais investidores na
Vale. Encontrar uma solução final para isso, uma que representaria
uma compensação substancial para a sociedade e, como tal, que
abriria a porta para um melhor relacionamento com as partes
interessadas, também é muito importante para o futuro da Vale. O
valor geral da compensação já havia circulado na imprensa e as
provisões adicionais estavam de acordo com as expectativas dos
investidores. Uma vez assinado, acreditamos que o acordo final
reduzirá o risco da narrativa da Vale, permitindo que os
investidores se concentrem novamente nos fundamentos e nas
perspectivas de negócios”, aponta o banco.
Na mesma linha, o Goldman Sachs vê que as incertezas em torno de
um acordo final da Samarco são um dos principais riscos pendentes
da Vale, e espera que um acordo definitivo permita que os
investidores e a empresa se concentrem em outros catalisadores de
resultados, incluindo a notável melhoria do desempenho operacional,
o que por sua vez deve permitir uma reclassificação.
Da perspectiva do balanço, a provisão adicional de US$ 1 bilhão
aos atuais US$ 3,7 bilhões que já tem no balanço é vista como
administrável, dado que a dívida líquida ainda estaria abaixo da
meta de US$ 10-20 bilhões da empresa (e está próxima da extremidade
inferior das expectativas dos investidores). A provisão adicional
relativamente pequena em comparação com o acordo potencial é
provavelmente explicada por 1) fluxos de caixa descontados (a parte
de R$ 100 bilhões a ser paga em 20 anos); 2) a parte (R$ 38
bilhões) já desembolsada e 3) alguma contribuição da Samarco.
“Mas notamos que há um desembolso de caixa significativo
necessário nos primeiros anos relacionado à indenização individual
e recuperação ambiental (estimamos em cerca de US$ 1,5 bilhão por
ano para a Vale nos próximos dois anos, dado que a empresa disse
que cumpriria R$ 32 bilhões em obrigações de desempenho no curto
prazo)”, apontam os analistas do banco.
Os investidores também observarão os casos de ação coletiva em
andamento no Reino Unido e na Holanda evoluem em vista de um acordo
potencial no Brasil, cita o Goldman, que tem compra para as ações
de Vale e vê espaço para uma recuperação do preço das ações em
vista do desempenho inferior recente em relação aos pares e aos
preços do minério de ferro.
O BBI também tem compra e ressalta que a perspectiva a partir da
empresa melhorou significativamente nos últimos meses, com o novo
CEO e um potencial acordo de Mariana sendo eventos importantes de
redução de risco para a tese. Finalmente, o valuation da Vale
continua atraente, com as ações sendo negociadas a 3,8 vezes o EV
(valor da firma)/Ebitda estimado para 2025 (considerando o minério
de ferro em US$ 105/tonelada em média). JPMorgan, BBA e Morgan
Stanley também têm recomendação de compra ou equivalente para as
ações da mineradora.
Informações Infomoney
VALE ON (BOV:VALE3)
Historical Stock Chart
From Oct 2024 to Nov 2024
VALE ON (BOV:VALE3)
Historical Stock Chart
From Nov 2023 to Nov 2024